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MEDITAÇÃO CONDUZIDA – do livro “Meditation: Its Process, Practice and Culmination”, do Swami Satprakashananda – Vedanta Society of St. Louis - USA

“ ELE É A META, ELE É O CAMINHO!”

 

          Deus é todo santo. Ele é Puro Espírito, livre de todas as manchas da matéria. Ele é a própria Luz da Consciência, sempre radiosa, auto-luminosa. Não há traço de escuridão n’Ele. Ao contrário, Ele é o removedor de toda treva. Ele a tudo ilumina. Sem Ele nada pode brilhar, nem o sol, nem a lua, nem o fogo. Todo conhecimento é um reflexo de Sua luz.

             A impureza habita na escuridão, na ignorância. Ele, a luz de todas as luzes, é absolutamente puro e imaculado. Os Upanishads O declaram “sem culpa, imaculado, alvíssimo e sem cor”. Ele é a própria pureza. Só se é puro através d’Ele, pois Ele é o exclusivo purificador. Somente por Sua luz nos podemos livrar de todas as impurezas, fraquezas e servidões.

             Desprovidos desta Luz Divina nos encontramos vendados pela ignorância, que é a raiz de todos os maus pensamentos e ações. Da ignorância brota o egoísmo. Desconhecendo o verdadeiro ser, o espírito imortal dentro de nós, e sua unidade com o Supremo Espírito, nos identificamos com os sistemas físico e psicológico, e nos comportamos, para todos os efeitos, como indivíduos distintos, separados e independentes da Divindade. Dessa egoidade procedem “gosto e desgosto” , “apegos e aversões”. Ela produz em nós os desejos sensoriais, o egoísmo, orgulho e ilusão, preparando terreno para outros tantos vícios.

             De modo a nos libertarmos de todo mal, temos, portanto, de nos livrar do egoísmo. Porém, não temos de nos descartar do ego, o eu individual; mas, sim, sintonizá-lo com o Supremo Espírito e realizar nossa essencial unidade com Ele.

             A vontade individual deve ser submetida à Vontade Divina. O Senhor é o Operador, somos meros instrumentos! Ele é o único Mestre, nós somos Seus servos. Tudo pertence a Ele, e somente a Ele. Todo poder é Seu poder, todo conhecimento é Seu conhecimento, toda beleza  Sua beleza, toda grandeza  Sua grandeza. Sendo assim, todo sentido de separatividade e toda idéia de independência da Divindade devem ser abandonadas.

             Devemos realizar que, como gotinhas d’água para o oceano, como raios de luz para o sol, como faíscas das chamas para o fogo, nós somos eternamente relacionados a Ele; não percebemos esta unidade, simplesmente, devido à ignorância.

             Assim, é preciso afrouxar a tensão do egoísmo. Então, o divino poder, a divina luz e a vida divina serão vertidas para nosso interior, sem obstruções, sem manchas. Seremos, assim, canais aptos para sua expressão.

             Quando o egoísmo retrocede, a graça de Deus vem para nós. Deus se encarrega de nós tão logo nos tornemos Seus dependentes. Ele nos guia quando nos entregamos à Sua orientação. Sua luz brilha e afasta toda escuridão, toda impureza, quando abrimos nosso coração a ela. Virtuoso ou pecador, todos podem receber Sua graça se apenas entregarem-se. Por Sua misericórdia, o pecador transforma-se em santo de imediato.   

             Diz Sri Krishna:

             “Até  mesmo o mais pecador dos homens, se me adorar com resoluta devoção, ele deve ser considerado um justo, pois tomou a reta resolução. Logo ele se torna virtuoso e alcança a paz eterna. Tu deves proclamar isto, oh filho de Kunti, que meu devoto jamais perecerá!”               Bhagavad Gita IX

 

             Apenas sendo honrado, sem devoção a Deus, não nos podemos liberar da ilusão da dualidade, tal como nascimento e morte, dor e prazer, luz e escuridão, ascensão e queda.

             Enquanto o egoísmo persistir, enquanto o indivíduo sustentar esse “eu” e “meu” e arrogar-se qualquer poder e conhecimento, qualquer trabalho com seus resultados, todas as suas boas ações, tanto quanto as más, deverão vinculá-lo à existência relativa – o bem, como uma corrente de ouro, o mal como uma de ferro, porém, ambas, igualmente fortes para prender.

             Se as boas obras prevalecem em sua vida, depois da morte, você será levado a um estado prazeroso de existência, seja nesta terra ou em outra parte. Mas, toda situação no plano relativo deverá estar impregnada com o medo; por mais elevada, por mais próspera, por mais agradável que ela seja, não poderá nunca ser uma benção verdadeira. Tal como há amargor no desejo, também há na satisfação. Tal como a adversidade é um problema, também a prosperidade o é. Tal como a dor traz seu espinho, também o prazer o traz!

             Mesmo as alegrias e glórias do paraíso, alcançável pelas obras virtuosas, têm sua limitação e terminam, havendo sido causadas por trabalho finito. Elas não podem satisfazer aquele mais íntimo anelo do homem pelo Absoluto, pelo Supremo. Elas são insignificantes quando comparadas com a verdadeira liberdade e felicidade que há no Ser, que alguém pode realizar através do reconhecimento de sua unidade essencial com o Divino.

             Quando alguém se entrega aos cuidados de Deus, Ele o retira do labirinto da existência relativa e o traz para Si. É apenas por meio de Sua luz, de Sua orientação, através de Sua graça, que podemos ir além da aridez da vida, ao Seu encontro.

             Pense que, quando você volve sua mente para Deus, quando você se rende a Ele,  Sua Luz brilha dentro de seu coração. Ela expulsa toda escuridão, todo lixo do interior, e retifica tudo que está torto e dobrado na mente.

             Veja a mente, suave e limpa, brilhando como um espelho, a Luz Divina refletindo-se nela. Esta é a Luz da Ventura Suprema, da Vida Eterna e do Conhecimento Infinito. Todo seu ser vibra com paz inefável. À medida que meditar assim, mais e mais profundamente, o espelho da mente se tornará tão transparente quanto o mais puro cristal. A Divina Consciência irradia distintamente, claramente, através da pureza               da sua mente.

             Gradualmente, ofuscada pela Luz do Espírito, a mente é dissolvida e o Ser Divino se torna totalmente manifestado. Você alcança a consciência imediata e direta da Divindade. Seu ego se submerge completamente n´Ela, e Aquele Infinito e Eterno Ser – além de toda dualidade, além de toda diferença e distinção, se irradia em sua consciência.

 

“Reverencio ao Senhor, destruidor dos ciclos de nascimento e morte, o doador da Liberação! Que é o Supremo Senhor, imutável e todo-penetrante, além do manifestado e do Imanifestado, livre da multiplicidade, sempre venturoso, sempre gracioso e puro, sem atributo e sem mácula, ilimitado como o espaço, em quem os sábios, em samadhi, meditam”.

OM  SHANTI  SHANTI  SHANTI  OM

 

“A   Ele Reverenciamos...”    (Swami Satprakashananda)

 

 

             Deus é a única fonte de todo poder, de toda força, de toda energia e vitalidade – física, mental, moral e espiritual. Toda grandeza é Sua grandeza, toda glória é Sua glória, toda bondade é Sua bondade. Ele é a vida de todos os vivos, a sensibilidade dos sensíveis. É Sua luz que ilumina a mente e enriquece o coração.

             Disse Sri Krishna na Bhagavad-Gitâ:

 

                         “Qualquer seja o poder, a beleza ou a glória manifestada em alguém,

                          compreende que tudo surgiu de uma fração de Meu fulgor.

                          Minha Existência sustenta o mundo todo

                         por uma porção de Mim mesmo.” ( B. G. X )

 

             A glória do sol nascente, o esplendor do estrelado firmamento, a sublimidade da silhueta das montanhas cobertas de neve, a majestade das incontroláveis corredeiras não passam de reflexos pálidos da Sua radiação.

             Ao Seu comando o vento sopra, o sol brilha, o fogo queima, a chuva cai.

             O todo-poderoso, todo-sapiente Senhor é, ao mesmo tempo, todo-misericordioso, todo-amoroso, todo-maravilhoso e todo-venturoso. É Sua beleza que torna bela a natureza. É Seu amor que torna amáveis os homens; é Sua alegria que faz os homens alegres. Ele está sempre pronto a nos ajudar. Podemos conseguir o que necessitamos  dEle apenas por um pedido. Se a Ele rogamos por possessões terrestres, poder, honra e fama, receberemos isso. Mas, são coisas perecíveis e contaminadas pela dor; temos de abandoná-las ao final.

Se orarmos a Ele por diversões celestiais, Ele nos vai conceder também. Porém, estas são igualmente provisórias e não comparáveis ao eterno e divino tesouro. Diz um dos Upanishads: “Não há felicidade naquilo que é finito. No infinito, apenas, está a felicidade e somente este infinito deveria ser objeto de conhecimento.”

             Roguemos a Deus pelo Divino Conhecimento, pelo Divino Amor, pela Vida Divina e pela Felicidade Imortal. Quem, se não o tolo, pediria bagatelas ao Imperador dos imperadores, o Criador e Legislador do universo?  Quem, se não o tolo, apanharia pedrinhas de vidro após haver encontrado vasta jazida de diamantes? Quem, a não ser o tolo, satisfaria sua sede em água turva, quando tem, à sua frente, uma fonte de ambrosia  perene?

             Enquanto em nós o ego prevalecer, enquanto nos sustentarmos separadamente de Deus, não poderemos superar nossas limitações, não importando nosso destino, nem o que façamos, nem o que alcançamos. Quando por amor buscamos a Deus e, encontrando- O, a Ele nos unimos, só então nos tornamos herdeiros da  Sabedoria, da Liberdade, do Amor e Alegria Divinas, no sentido verdadeiro. Que possamos buscá-Lo e a Ele unicamente; amá-lO e tão somente a Ele; adorá-lO e apenas a Ele.

             Para isso, necessitamos de fortaleza – física, mental, moral e espiritual. É através do Seu poder que podemos caminhar em Sua senda. Por meio de Sua luz é que podemos encontrá-lO. Por meio de Sua graça é que podemos adorá-lO. E é através de Seu amor que alcançamos união com Ele. Ele é “a Meta, o Protetor, o Mestre, a Testemunha, a Morada, o Refúgio e o Amigo.”

             Seja qual for nosso poder ou conhecimento, ou prazer encontrado na vida, tudo é dEle derivado. E, mesmo assim, não é possível desfrutar de nenhum deles em sua pureza intrínseca, nem em medida adequada, porque nós, simplesmente, não podemos ainda sentir nossa unidade essencial com o Senhor, a Alma de todas as almas. Nosso ego intervém, criando barreiras e obstruindo o percurso.

Pense que você está para sempre unido a Ele, que Ele é o único Mestre e você apenas um instrumento, que pertence completamente a Ele como a gota d’água ao oceano, e que tudo que há a fazer é buscá-lo, e adorá-lO  para, inteiramente, a Ele se render !

             Pense que o Conhecimento Divino, a Divina Pureza, a Felicidade Perfeita procuram um canal de expressão em você, devendo fluir por você no momento em que esteja pronto. Pense que, tal como a jarra de água está imersa no oceano, você está nEle imerso e Ele está em você.

 

 

                                      “Aquele Ser auto-radioso que está no fogo, na água, nas plantas,

                                       nas árvores, que interpenetra todo o universo, a aquele Senhor

                                       sempre esplendoroso nos prosternamos sempre e sempre.”

 

 

Om  Shanti Shanti Shanti...

 

“A  Fonte  de  Todo  Prazer”- ( Swami Satprakashananda )    

 

             Há Alegria no coração de toda criatura. Esta Alegria é a própria essência do universo. Esta Felicidade suprema é tão pura e transcendental que nenhuma comoção, conflito ou catástrofe podem tocar. O tumulto e a inquietação do mundo não a conseguem alcançar. Nenhuma miséria, sofrer ou medo a ela se podem mesclar. Todas aparecem e desaparecem como espuma e borbulhas no profundo oceano da justa Felicidade.

             Não podemos perceber esta Felicidade, em sua pureza essencial, devido às impurezas e distrações da mente. A menor percepção desta Felicidade preenche seu coração com paz e alegria, onde e quando a mente estiver calma. Tal como a luz do sol revelando vários objetos, escuros ou claros, pequenos ou grandes, não perde sua transparência original, da mesma forma, esta Suprema Ventura, interpenetrando tudo, prevalecendo em toda parte, para sempre retém Sua inata pureza.

             Esta pura Alegria é a própria substância do universo, a Realidade mesma. O Real é todo-venturoso, por ser incondicionado, livre, puro e perfeito. O Real é auto-consciente, Real perante Si mesmo. Assim, esta Alegria é idêntica à Consciência Absoluta, o Auto-desperto.

             Esta pura Felicidade é Brahman. Uma parte infinitesimal desta Felicidade, encontrando-se manifestada neste universo, tornou-o cheio de bem-aventurança.

             Pense que esta bem-aventurança permeia a atmosfera a sua volta, que o ar respirado é puro, doce e sereno. Pense que todo seu ser – corpo, mente, os órgãos e os sentidos – são permeados por esta Alegria pura. Você se sente aliviado e renovado. Seu corpo está equilibrado, sua mente está calma e você, assim, experimenta  paz e alegria inefáveis vindas de dentro.

             A pura Alegria se manifesta em nosso interior como o próprio Ser, por isso Ele é o mais querido de todos. Amamos a tudo mais pelo amor do Ser, que, sendo refletido no corpo, torna o corpo querido. Há uma linda passagem do Brihadaranyaka Upanishad, em que o sábio Yajnavalkya se dirige à sua esposa nestes termos:

 

                         “Oh minha bem amada, não é por ser esposo que o esposo é querido,

                          mas por causa do Ser ele é querido; não é porque são filhos que os filhos

                          são queridos, mas por causa do Ser eles são queridos; não é por si mesma

                          que a riqueza é atraente, mas por causa do Ser ela é atraente.

                         Oh, Maitreyi, o Ser deve ser realizado, deve ser ouvido,

                         deve ser manifestado e nEle devemos meditar.”

 

             O Ser é a fonte de todo prazer. Nossa felicidade não se origina, como pensamos, de estados mentais ou dos objetos sensoriais, nem do contato dos sentidos com os objetos. Qualquer alegria que parecemos obter da experiência dos sentidos, pensamentos, sentimentos, recordações, de fato são provenientes do Ser, e não de algum destes processos. Sempre que a mente se aquieta por causa de um deles, a felicidade original do Ser flui para ela. Não percebemos esta alegria em sua intrínseca pureza, porque ela assume uma tintura em seu processo de permeação.

             Mergulhe fundo em si mesmo, naquela fonte inesgotável de toda ventura. É o ilimitado oceano de felicidade, pleno de tesouros. Tão logo você se submerge, ganha  pérolas de devoção, sabedoria, pureza, amor e paz, em abundância. Imagine que se encontra inteiramente submerso. Acima, abaixo e à sua volta, tudo são as águas da Felicidade imortal. Você se sente livre como um peixe no mar. Não há temor à morte neste oceano, se você nele se perder, você se encontrará, tornar-se-á  o que, na verdade, é: alcançará a Auto-realização.

 

             “Possa eu alcançar Brahman. Possa alcançar Suprema Felicidade. Possa alcançar

              Brahman que é a Suprema Felicidade.”

OM  Shanti  Shanti  Shanti

 

 


“A PAZ QUE ULTRAPASSA TODO ENTENDIMENTO”

 

                                      “Há paz no céu, há paz no espaço, paz na terra,

                                      paz nas águas, paz na relva, paz nas árvores,

                                      paz nas deidades, paz em Brahman, paz na paz.

                                      Possa esta paz estar comigo.” (Upanishads)

 

Uma paz infalível habita o coração do universo. É sua própria essência e a tudo permeia. Todos os seres e coisas descansam sobre a mesma Existência que é a felicidade mesma. É, em essência, uma única existência, indivisível, não-diversificada, imóvel, não importando que diferenças ou divisões, movimentos e discordâncias possam ser interpretados por nós no mundo fenomenal.

Um único e imutável Ser sustenta tudo. As formas se modificam, mas não a substância. Homens, animais, árvores e montanhas, o sol, a lua, estrelas e todos os seres, estão  trançados  juntos, como se fosse, por um mesmo cordão de ouro que os interliga. Como disse Sri Krishna, no Bhagavad- Gita:

 

                         “ Além de Mim nada mais há. Tudo se encontra suspenso em Mim como jóias enfileiradas em um cordão.”

 

 

N`Ele vivemos, nos movemos, e, nEle, possuímos nossa existência. Ao pensarmos no Divino Espírito como o único Ser de todos, compreendemos nossa unidade com todas as coisas e seres. Sentimos que pertencemos ao Ser infinito, e, por intermédio dEle, a todos, e não a uma família particular, ou a uma sociedade ou nação, raça ou país...

Nada nos parece estranho ou remoto, mas tudo parece próximo e familiar. Todo preconceito e antipatia deixam a mente. Paz e amor vivem em nós.

 

                         “ Aquele, que é o Real no irreal, que é Omnisciente entre

                 os sencientes, que, embora Único, satisfaz os desejos de muitos – de acordo com sua ações – aos sábios que realizaram este Ser inerente, a eles pertence a paz eterna e a mais ninguém.” (Upanishads)

 

Contemple sua relação com todos através deste Todo-penetrante Ser divino. Pense que você está em paz com todos e que todos estão em paz com você, que você a ninguém teme e ninguém teme a você. Pense que a atmosfera à sua volta é cheia de paz; que o ar que respira é puro e saudável. Pense que quando você inspira, ele o faz cada vez mais puro. Seu corpo é puro e também a sua mente. Pureza traz calma. Seu corpo se aquietou e se equilibrou, a mente se tranqüilizou.

        Volte seu olhar interior para a mente e observe- a . Visualize a mente como um lago de plácida superfície, livre de ondulações, movimentos e borbulhas. Olhe através de sua água cristalina e pura, na profundidade de sua própria existência e imagine o mais íntimo Ser, puro, livre, radioso e jubiloso. Ao visualizar o Ser, você se torna um com Ele. Vai além da mente, e se sente sempre distinto dela, uma testemunha. Não mais se identificará com o corpo e mente, tornando-se desapegado deles.

 

As condições físicas e mentais, fome e sede, ascensão e queda, prazer e dor, esperança e medo, não o afetam mais.

Nem o corpo e nem a mente o podem limitar. Alem de ambos, você se encontra no ilimitado, imutável, sempre-livre, sempre calmo divino Ser.

Você alcança paz eterna, a paz de Deus que ultrapassa todo entendimento....!

 

                                                               OM Shanti  Shanti  Shanti


“A Única Fonte de Tudo”- ( Swami Satprakashananda )

 

                         “Vamos meditar no Ser Supremo no íntimo do coração. Ele que é a única

                          fonte de toda Ventura, a solitária meta de todo conhecimento; a quem as mais

                          elevadas deidades buscam e que é o imóvel operador do universo.

                          Dele o universo surgiu, nEle tem sustentação e nEle será reabsorvido.

                          Ele é o que remove todos os temores e concede luz eterna e paz inverencial.

                          Os yogues O realizam na profundeza de seu coração através da intensa meditação.

                          É por esta realização que vão além de todo sofrimento, de toda limitação,

                          alcançando absoluta felicidade e paz.”

 

             Vamos relaxar o corpo e a mente, reunir nossos pensamentos e meditar no Divino Ser na profundeza do coração. Pense no Eu Supremo como a única fonte de toda vida, de toda força, de toda sabedoria, de todo amor e de toda alegria. Ele é aquele Adorável Ser, que parece estar muito distante de nós, mas, em realidade, é o mais próximo dos próximos. Ele é o Eu mais íntimo de todo ser humano. É a Alma de todas as almas. Para conhecê-lO, não temos de ir a parte alguma. Podemos encontrá-lO no fundo do coração através da intensa meditação.

             Seja qual for nosso poder, seja qual for nossa alegria, seja qual for nossa sabedoria, tudo teve origem nEle. Aparentemente, conseguimos satisfação de vários objetos. Aparentemente, recebemos forças de muitas fontes, porém, Ele é a única fonte de todo prazer e de toda força. Toda expressão de alegria vem dEle. Toda expressão de poder vem dEle. Mas, não pensamos na fonte. A água que vem da torneira não procede da torneira, mas, sim, da fonte à distância. De modo semelhante, todas as satisfações têm uma exclusiva causa, e esta causa é o Ser Supremo.

             O Eu Supremo é o Ser Supremo, Ele é a entidade toda penetrante, a mais íntima essência de tudo que existe. Ele é a Realidade subjacente que faz com que tudo nos pareça real. Nosso poder é limitado e assim também nosso conhecimento e nossa felicidade, porque não nos voltamos àquela única fonte de poder, de saber e de felicidade. Vamos nos voltar para Aquela fonte.

             A fonte é a Alma de todas as almas. Volva seu olhar interior para o mais remoto recôndito da alma. Que encontrou lá? Lá está o espírito consciente, sempre radioso. Este Supremo Ser é pura consciência, o auto-luminoso espírito que tudo manifesta. É a luz do espírito que permite aos olhos ver, aos ouvidos ouvir, à mente pensar, sentir, conhecer. Este consciente espírito em toda criatura é a fonte de toda fortaleza, de todo prazer, de toda sabedoria. E, ao fundo deste espírito individual, está o Ser Supremo.

             Pense neste Ser Supremo, auto-luminoso, puro espírito, absoluta consciência. Medite nesta luz. É esta luz que traz pureza, que traz força, alegria e amor. Medite neste auto-efulgente espírito como seu mais íntimo ser.

             Por meio de profunda meditação, você se une a Ele, e, alcançando a única fonte de toda bem-aventurança, você se transforma. Desde aquela fonte, a pureza entra em sua mente, em seu corpo. Daquela fonte, o amor entra em seu coração. Daquela fonte, o contentamento vem para você e da mesma fonte toda sabedoria flui.

             Medite na luz do Espírito Supremo. Imagine que entrou naquela luz, que está inundado por ela e que está inteiramente transformado. Aí está todo o segredo da pureza, do amor verdadeiro, da verdadeira sabedoria – entrar em contato com a fonte. Como se pode fazer contato com a fonte? Voltando os pensamentos para Ele e meditando na fonte com toda fé e devoção. Medite profundamente nEle, até que realize sua unidade essencial com Ele.

 

OM Shanti  Shanti  Shanti  

 

“Ele Habita na Profundeza do Coração” ( Swami Satprakashananda )

 

                         “No relicário dourado de sua consciência interior

                          está o Supremo Ser, sempre radioso, a pureza mais pura.

                         Este é a Luz das luzes, a Existência onipresente iluminando

                         seu coração como o mais íntimo ser. Conhecendo-o, você

                         conhece Aquilo, a Unidade Infinita.”      -Upanishad

 

 

             Pense que a atmosfera a sua volta é saudável, pura e serena. Imagine que está absorvendo desta atmosfera algo que purifica e eleva. Pense que, enquanto inala o ar, seu corpo vai sendo purificado totalmente. Todas as suas impurezas e fraquezas vão sendo apagadas. Todos os aborrecimentos e estímulos deixaram seu corpo. Este se sente mais leve que de hábito. Seus nervos se afrouxaram, você se sente revigorado e regenerado.

             Pense que o corpo se tornou perfeitamente calmo e estável. Não mais oferece qualquer resistência à quietude da mente. Sinta que a mente se torna mais e mais pura, à medida que se volta  para Deus, a Luz de todas as luzes. Ao mesmo tempo, ela fica mais repousada, pois toda sua inquietação se deve às impurezas que a ela se aderiram.

             Como é a mente purificada? As impurezas provém da ignorância. Prevalecendo a escuridão mental, esta é a causa de todas as fraquezas. A única cura para a escuridão é a luz. Quando você permite à luz do Supremo Espírito entrada em sua mente, então ela se purifica. Sendo purificada, é pacificada. Nenhuma pacificação da mente é possível  sem sua purificação. Quanto mais você pensa em Deus, mais puro se torna, e mais seus pensamentos podem nEle concentrar-se.

             Como irá você meditar em Deus? Ele é todo- penetrante e está em todas as formas, mas, também, além das formas. Habitando todo o universo, está também, além dele. Sustentando o tempo e o espaço em seu regaço, Ele é também intemporal e adimensional.. Como irá você reter o Ser Supremo em sua mente, sendo Ele o todo-poderoso, todo-conhecedor Criador e Sustentador do universo, a quem os pensamentos não podem abarcar e palavras não podem expressar? Como poderá você meditar no Senhor Supremo? 

             É bem verdade que o Supremo Senhor está presente em toda parte, que é sem forma e sem rosto, encontrando-Se além de tempo e espaço. Porém, Ele também está manifestado no interior de seu coração como seu próprio ser. Aqui mesmo, nos recessos do coração, Sua luz permanece constantemente irradiante. De modo a realizar o Divino, não tem que ir a parte alguma. Não vai encontrá-lO em nenhum lugar, mas em seu coração. É nos recessos do coração que poderá conhecê-lO diretamente, mais intimamente.

             Vã é sua busca em cavernas das montanhas, ou em lindo cenário, ou em picos nevados, ou na vastidão das águas azuis profundas, ou em florescentes campinas, ou sob um céu estrelado. Em nenhum lado você O pode encontrar. Em toda parte verá Sua manifestação, mas não Ele. Suas próprias realizações O escondem. O Senhor Supremo, que manifesta e sustenta este universo, Se ocultou por detrás de Sua própria glória. Podemos apenas ver Sua Obra.

             Volte seus pensamentos para o interior, ao mais ignoto abismo de si mesmo. Lá brilha Ele como seu íntimo eu, a Alma de sua alma.

             Nas profundezas de seu coração há um espaço luminoso, o assento de seu intelecto, seu reto conhecimento. Visualize este espaço luminoso em seu coração. Ali se encontra o próprio centro de sua personalidade. Ali está a base mesma de sua existência. Medite naquele espaço luminoso, como a região de sua autoconsciência, a morada de seu eu espiritual.

 

                                                                 

 

             É a luz do consciente espírito que, brilhando no coração, governa a mente e o corpo, e controla todos os sentidos. É a luz do consciente espírito que permite aos olhos ver, aos ouvidos ouvir, às mãos trabalhar, às pernas andar, à boca falar. Em sono profundo, quando a radiação da consciência se retira do corpo e dos sentidos, estes cessam de operar e o corpo fica inerte. Esta luz da consciência emana do eu espiritual que habita no coração. Esta luz é a fonte de todo seu amor e conhecimento, de toda sua bondade e grandeza.

             Visualize esta luz da consciência em seu coração e medite em seu ser mais íntimo, o imutável espírito que acompanha todas as modificações do corpo e da mente. Ela brilha com fulgor constante que não tremula, que não empalidece. Estando despertos, a sonhar ou em sono profundo, ela é sempre a mesma.

             Visualize o espaço luminoso em seu coração e medite em seu eu espiritual intensamente, até identificar-se com Ele, até sentir que não é o corpo físico, mas, sim, o espírito radiante.

             Há alguns anos atrás você era jovem e pensa haver crescido em tamanho. Porém, é o corpo que cresce, que decai, que nasce e morre. Sem idade, não nascido,  sem desgaste e imortal é este luminoso Ser. Imutável, Ele parece modificar-Se, sendo visto como as perecíveis condições do corpo. Imodificável, Ele parece modificar-Se, ao ser identificado com os volúveis modos da mente. A mesma luz expressando-se diferentemente por meios diversos, não está sujeita a qualquer modificação. Esqueça que você é um corpo, que é uma entidade psicológica. Realize a si mesmo como sendo puro espírito.

             Medite no ser luminoso que resplandece nos recessos de seu coração. Ao identificar-se com Ele, não mais estará confinado ao corpo ou à mente. Vai transcender todas as limitações. Por trás de cada uma e de todas as ondas há um oceano. Se você olhar além da forma da onda, que parece separá-la do todo das águas, irá reconhecer sua unidade com o oceano.

             O ser espiritual que resplandece em seu coração não se encontra limitado a ele. Ele é essencialmente unido ao mesmo Espírito Supremo que manifesta todo o universo. É apenas o egoísmo que cria distinções entre a consciência individual e a consciência universal. Você não é a forma finita que a onda assumiu. Você é a própria substância da qual a onda é feita. Você é da essência da consciência, realize sua unidade fundamental com a Suprema Consciência.

             No momento em que você se retira do corpo, dos sentidos e da mente, e se compreende como puro espírito, que não possui circunferência, você se acha unido ao Espírito Supremo, não limitado por tempo e espaço. Neste reino não há passado, nem presente, nem futuro. É Absoluta Consciência, a perfeição mesma, a felicidade mesma, uma existência infinita sem limitações.

             É um oceano de felicidade onde não há traço de escuridão, onde a morte é desconhecida, onde existe luz e luz apenas.

             Você está com a Suprema Divindade, você pertence a Ela e existe nEla. Lá você vive, lá você se move, lá você tem sua existência. Porém, você ainda não se percebe como verdadeiramente é. Tal como cegos que vivem e se movimentam sob a luz meridiana do sol, nada sabendo de seu esplendor, de modo semelhante, vivemos e nos movemos nEle, e, assim mesmo, por causa de nossa cegueira espiritual, estamos inadvertidos dEle.

             Que os véus de ignorância caiam de nossos olhos e possamos realizar nossa unidade essencial com o Ser Supremo, que é a pureza mesma, a vida mesma, a própria luz e a pura felicidade.

 

OM Shanti  Shanti  Shanti

“ELE TORNA TODAS AS COISAS QUERIDAS...”

 

             Um júbilo inefável permeia todo universo. É sua própria essência! Verdadeiramente, deste júbilo surgem todas as coisas. Neste júbilo elas são sustentadas, neste contentamento elas se movem e para Ele regressam.

             Esta suprema Ventura é idêntica à Consciência Suprema. O Ser Omnipresente, o Eu do universo, é um oceano de efulgente Alegria e Paz. Embora todo-penetrante, Ele é transcedentalmente puro e impessoal, de modo que nenhuma excitação, nenhuma discórdia ou mal proveniente do mundo fenomenal o possam afetar. Do mesmo modo que um cristal puro e sem coloração, nos parecerá vermelho quando estiver associado a algo vermelho, porém, sem ser tingido por sua cor, similarmente, o Ser Supremo não é ofuscado pela mundanidade. Não estando aderido, Ele não é afetado. Sempre livre, puro, sem mancha ou culpa Ele é.

             Vivemos e nos movemos naquele oceano de efulgente felicidade. Ainda assim, não estamos conscientes disso, pois nossas mentes não estão receptivas, simplesmente devido a que nossa visão interior está embotada pelo ilusório! Poderíamos desfrutar de inefável júbilo em qualquer lugar e a qualquer momento, se nossa mente estivesse pura e calma. Esta efulgente felicidade, que tudo permeia, se encontra manifestada em cada entidade individual como seu mais íntimo “eu”. Por isso, o Ser é seu mais querido sempre. O que mais a ele é querido, o é por intermédio do ser. Devido a sua associação com o ser espiritual por meio do corpo, a família nos é querida.

             Tal como cada onda do oceano é essencialmente uma com toda a massa líquida, assim é também o ser individual essencialmente um com o Ser Supremo. Sendo um oceano de inefável Júbilo, este Ser é o mais querido de todos. Tudo é querido por Sua causa. O esposo é querido não por ser esposo, mas por causa do Ser. Assim também a esposa, os filhos e mesmo riquezas. Em uma partícula de Sua Felicidade todas as criaturas vivem. Ele é a única fonte de toda Ventura. É alcançando esta Ventura que a pessoa se torna feliz! Quem poderia respirar ou existir, se esta felicidade não habitasse Nele?

             Seja qual for a ventura que alguém experimente, ela procede daquele radioso Ser, por meio dos modos da mente. Enquanto a pessoa não estiver desperta para a natureza de si mesma, não pode experimentar desta alegria em sua nativa pureza. È pelos modos da mente, por onde esta felicidade flui, que são estabelecidos as diferenças em grau e qualidade.

             Os objetos externos não produzem felicidade. Quando muito, induzem a estados internos, mais ou menos favoráveis, ao fluxo venturoso do divino Eu.

             “Possam os ventos soprar docemente.

              Possam os rios fluir docemente.

              Possam as plantas nos oferecer doces colheitas.

              Possa a noite e o dia nos trazer doçura.

              Possa a poeira da terra também ficar doce.

              Possam os céus nos proteger com doces chuvas.

              Possam as árvores nos dar doces frutos.

              Possa o sol brilhar docemente sobre nós.

              Possa haver doçura em toda parte!”

 

 

OM SHANTI  SHANTI SHANTI OM

 

 

   

 

 


“Estás  Sentado no  Lótus do  Meu  Coração”- (Swami  Satprakashananda) 

 

 

             Não há outra mãe se não Tu, nenhum outro pai que não Tu, nenhum outro amigo ou companheiro que Tu, nenhum outro tesouro e nenhuma outra meta de conhecimento se não Tu. Todos os relacionamentos terrenos são temporários, e, portanto, não podem ser reais. União e separação marcam a vida no plano relativo. Mãe e pai tenho tido vida após vida. Amigos e companheiros vieram e se foram. Tesouros acumulei e logo perdi. Eles não me satisfazem. Meu coração anseia pelo eterno, o ideal, o perfeito.

             Tu és a eterna e perfeita Mãe, o eterno e perfeito Pai, és o eterno e perfeito Amigo e Companheiro. Não há nenhuma separação de Ti, és todo-amoroso, todo-misericordioso, todo-compreensivo. Tu és o tesouro Supremo, que, sendo conquistado, nada mais resta a conquistar. És a meta única do conhecimento, que, uma vez conhecida, nada mais resta a conhecer.

             Tu és mais que uma mãe, mais que um pai, mais que um amigo ou companheiro, mais que algum tesouro e mais ainda que qualquer objeto de conhecimento. Tu és meu mais íntimo Eu, a Alma de minha alma. Mesmo assim, ainda não Te posso ver. Que pena! Embora sejas o mais próximo de todos, pareces estar além daquele que está mais distante. Os sábios videntes Te presenciam lá dentro do coração, porém, o ignorante, não Te encontra em parte alguma. Rogo que removas de meu coração toda treva e ilusão, todos os medos, fraquezas e agonias. Liberta-me de tudo que for destrutivo e dilacerante. Concede-me fortaleza, pureza, sabedoria, fé e devoção. Manifesta-Te diante de mim, que Te possa ver dentro de mim e à volta. Meditemos em Deus como nosso Ser mais íntimo.

             No espaço luminoso no sanctum do coração, a Suprema Consciência está manifesta como o ego auto-inteligente. O coração é a câmara secreta da alma. Podemos encontrar este Infinito Ser, onipresente, onisciente, eterno, lá em nosso coração. “Estou sentado no coração de todos”, afirmou Sri Krishna.

             Pense que a atmosfera à sua volta é animada pela Divina Presença. O ar que está sendo inalado é salutar, puro, sereno e venturoso. Pense que, enquanto respira este ar, seu corpo está sendo purificado, todas as indisposições e fraquezas estão sendo afastadas. Você sente o corpo mais leve que de hábito. É restabelecido e revigorado, como se fosse um corpo novo, saudável, forte e puro.

             Pense que o corpo é o próprio templo de Deus. No interior deste templo, no altar do coração, o Divino Senhor se encontra manifestado como a Luz da Consciência. Não O percebemos devido às nuvens e brumas que prevalecem no horizonte mental, tal como num dia nebuloso em que o sol não aparece, embora brilhe no céu em todo esplendor.

             Pense que ao voltar seus pensamentos para Deus, sente Sua luz no coração, embora não O possa ver. A divina radiação dispersa todas as brumas e nuvens de seu interior. A mente se torna pura e dadivosa. Na pureza alcança paz. Não pode haver pacificação na mente sem purificação.

             Imagine a mente como um lago de água cristalina e pura, absolutamente calmo, livre de ondulações e torvelinhos. O divino fulgor ali descansa. Este lago representa o estado ideal de sua mente. A mente sendo constituída de elementos sattwicos – pura e sutil substância material – é intrinsecamente calma e transparente. Pode refletir ou transmitir a luz da Divina Consciência.

             Quando você observa o lago de superfície plácida da mente, radiante com a luz do espírito, encontrará um lótus aberto, ao centro. É uma magnífica flor com muitas pétalas, toda branca, fresca e perfumosa. Este lótus simboliza a devoção de seu coração a Deus. É o mais precioso dos tesouros que se pode ter nesta vida. É o assento de Deus em seu coração. Visualize o lótus como a mais linda flor que você jamais viu. O lótus da devoção cresce em seu coração quando você abre sua mente a Deus e Sua luz alvorece sobre ele, dispersando toda escuridão.

 

             Ao observar o lótus em seu coração, vê o Divino Senhor nele sentado, em uma forma de beleza ideal, irradiando amor, poder, sabedoria e paz. Por compaixão, o Divino sem forma e sem rosto, assumiu uma forma de modo a que sua mente O possa capturar. Esta é visão dAquele Bem-amado Um, corporificação da Divina Consciência, a Perfeita Felicidade cristalizada.

             Medite nesta forma Divina, derramando graça sobre você com mãos erguidas, observando-o com olhos compassivos, saudando-o com as mais doces palavras.

             Medite nEle como seu Todo em tudo, como sua única meta e morada, até que sua mente se torne completamente mergulhada nEle e você O realize como sua própria existência.

 

 

OM  Shanti  Shanti  Shanti

 

 

“Ser Mentalmente Espiritual é Vida”

( Uma meditação da Sexta-feira Santa )   Swami Satprakashananda 

 

 

                         “Assim aquele Todo-Existente Ser manifestou as criaturas vivas,

                         com os sentidos voltados para o  exterior, sem que pudessem ver

                         o Eu espiritual interior. Rara é aquela pessoa sábia que, desejosa

                         da imortalidade, olha para dentro, e, ao realizar o Eu espiritual,

                         torna-se livre.”  Upanishads.

 

 

             O caminho da imortalidade é alcançado interiormente. Viver atormentado pela idéia corporal é morte. Ser devotado ao espírito, animado e motivado pela consciência espiritual, é vida. Por isso, o apóstolo Paulo disse: “Ser mentalmente carnal é morte; ser mentalmente espiritual é vida e paz!”  Foi o que Jesus Cristo demonstrou por meio da crucificação. É um dos mais sombrios dias da história humana, ainda assim, é chamado Sexta-feira Santa, porque naquele dia Jesus demonstrou que a morte não pode tocar o espírito, que ela afeta apenas ao corpo, não o Divino Espírito que irradia no interior.

             Ele não tentou defender-se, não tentou salvar-se. Ele renunciou à sua vida de modo a que os seres humanos pudessem encontrar o caminho à imortalidade, pudessem saber que a alma é imortal. Por isso, está dito no evangelho de João, que Ele morreu pelo bem de seu rebanho.

             Vamos voltar nossos pensamentos para o interior e nos apegar ao Espírito Divino que brilha dentro de nós. Este Divino Espírito é o próprio centro de nossa personalidade. Este princípio de Consciência que anima o corpo, que permite o funcionamento dos sentidos, é o Espírito Imortal, que não está sujeito a modificações, sendo Ele próprio a testemunha de todas as modificações. É sempre o Conhecedor que não pode ser conhecido: não há nenhum outro sábio se não Este, nenhum pensador que Este, nenhum outro obreiro se não Este.

             É devido a Este que o corpo vive, devido a Este que a língua fala, que os ouvidos ouvem e os olhos vêem. Meditemos neste Espírito Imortal.

             Foi por nos esquecermos do espírito e nos identificarmos com as urgências do corpo, que nos tornamos sujeitos à fome e à sede, ao crescimento e à decadência, ao nascimento e à morte; porém, ao recolhermos nossos pensamentos, ao reunirmos nossos sentimentos e idéias dispersas, concentrando-os no espírito interior, poderemos conhecer a Verdade.

             Sabemos não pertencer a este universo físico e sim ao Espírito Supremo que tudo interpenetra- aquela auto-efulgente Consciência Pura que sustenta o universo, que manifestou os mundos e que está por trás deste ser individual. Compreendemos que somos inerentes ao Supremo Espírito e realizamos nossa unidade com Ele, que não se romperá jamais.

             Para aquele que realizou sua unidade com o Eu Divino não há morte. Mesmo que não tenha sido capaz de realizar Aquele, seu pensamento haverá de sustentá-lo em meio às condições impermanentes da vida. Saiba disso sempre, no sucesso e no fracasso, no nascimento e na morte, na ascensão e na queda, na prosperidade e na pobreza, não haverá morte para você!

             Estará para sempre com o Eu Divino – você é unido a Ele!

             Tal como a onda é sempre existente no oceano, do mesmo modo este ser divino existirá sempre no Supremo Espírito. Morte e nascimento, acumulação e perda pertencem ao corpo físico, não ao plano do Ser. Quando realizamos isso, alcançamos força, alcançamos pureza, amor, sabedoria, alcançamos a verdadeira alegria.

             Foi por isso que Jesus não resistiu- a quem deveria Ele resistir? Ele sabia que uma única alma habita todos os seres, assim falando: “Não resista ao mal, devolva o mal com o bem, ame seus inimigos, abençoe os que o amaldiçoam, ore por aqueles que o desprezam e perseguem.” Esta foi a mensagem trazida por Jesus e que Ele mesmo exemplificou na crucificação. A cruz é o símbolo de Seu amor e perdão.

             Meditemos naquele acontecimento; meditemos no puro Espírito que brilha dentro de nós. Vamos realizar o Espírito, coloquemo-nos acima do corpo: é o corpo que se corrompe, o Espírito é imutável, sempre puro e auto-efulgente. Medite no puro Espírito: saiba que você é um ser imortal, imodificável, puro e livre, e pertencente à existência ideal e infinita. Este corpo é apenas uma vestimenta usada presentemente por você, e que deverá descartar ao longo do tempo. Poderá vir a ter um outro corpo, porém, enquanto estiver atormentado pela idéia da forma, enquanto for mentalmente “corporal”, como disse o apóstolo Paulo, estará nas garras da morte.

             Mas, no momento em que erguer seus pensamentos, elevando-se ao reino do Espírito e volvendo-se mentalmente espiritual e dedicado ao Espírito Divino, você estará acima da morte. Mesmo tendo que usar um corpo, mesmo que, aparentemente, tenha que nascer, crescer, envelhecer e morrer, ainda assim, você é imortal porque realizou o Espírito Supremo, a Existência Ideal, o Imortal e Eterno Eu, como existindo em toda parte.

             Como ensina Sri Krishna na Bhagavad Gitâ:

 

             Aquele imperecível e onipresente Ser

             que interpenetra todo o universo,

             nada  pode destruir!”

 

             Todas as formas passam por algum tipo de destruição, mas, a essência da Realidade, que tudo permeia, permanece imutável.

 

OM  Shanti  Shanti  Shanti

 

   

“Tu  És  Meu Único  Mestre”

Swami  Satprakashananda        

 

 

                         “Inclino-me diante de Ti, oh infalível Guru,

                         que dissipa a escuridão e concede paz à Terra.

                         Tu és sempre gracioso, sempre venturoso,

                         sempre livre, puro  e  perfeito.

                         Tu és a luz do Conhecimento, auto-luminosa  Consciência,

                         Luz de todas as luzes.

                         Tu és a  própria  felicidade conduzindo  todos

                         à suprema sabedoria e imorredoura alegria.”

 

 

             Nos páramos desta vida eu Te encontrei, oh Senhor, meu único Guia.

             Quem, se não Tu, me haveria de mostrar a saída?

             Quem, se não Tu, removeria as trevas que ocultam o conhecimento da Verdade?

             Quem, se não Tu, me tornaria consciente da minha verdadeira natureza?

É unicamente por Tua graça que posso trilhar a senda espiritual.

Encontrei o caminho, embora não haja alcançado a meta. Não vacilarei pois Tu sustentas minha mão. Se a criança segura a mão do pai, ela pode cair. Porém, sendo o pai quem  segura a mão da criança, está não tropeçará. Tu me guias e Tu me proteges. Vou seguir-Te e somente a Ti!

             Estás presente em meu guru, assumindo forma humana afim de orientar as almas desamparadas. Quem pode iluminar-se, quem pode inspirar outros a menos que Tua graça, ou Teu poder salvador nele se manifestem?  Pode, aquele que está limitado, tornar outros livres? Pode o cego conduzir outros cegos? Pode  o fraco carregar os fardos alheios? 

             Apenas Tu podes conduzir o homem mortal à imortalidade. Tu és o único Guru de todos. Por meio da forma de meu Instrutor, Tu me abençoaste. Que me possa agarrar a ele como Tua forma visível, ao longo de todas as variáveis condições da vida. Na saúde e na doença, nos dias ensolarados como nos tempestuosos, na prosperidade e na pobreza, no sucesso como no fracasso, possa eu  ver-Te  nele.

             Que o charme da riqueza, que o laço da amizade, que a atração do prazer e as sensações da fama e da glória não desviem meu coração de Ti. És  Aquele em quem, no universo, eu posso confiar unicamente. Tu me abençoaste, és meu único guru e companheiro, meu amigo e refúgio, aqui e no mais além.

             Dizem as escrituras que o guru é Brahma, que o guru é Vishnu e também Shiva. Quem, a não ser Tu, pode tornar livre o homem das ligaduras do karma, as profundas e enraizadas impressões, acumuladas em tantas vidas? O fruto do karma é inevitável, porém, por meio de Tua graça, todas as suas sementes podem ser queimadas antes de frutificar.

             Por meio da compaixão do guru o véu da ignorância caiu de meus olhos. Compreendi a Presença Única existente nos muitos, a Suprema Consciência interpenetrando todo o universo, isto foi mostrado a mim.

             Reverencio o guru, personificação da Divina sabedoria. Inclino-me diante dEle, cuja graça fez com que o oceano de mortalidade fosse tão fácil de cruzar, quanto as pegadas de um animal.  Reverencio a ele, o diretor de minha alma, o que concede Liberação.

 

             Não há maior amigo que o guru.

             Não há melhor conselheiro que o guru.

             Não há maior benfeitor que o guru.

             Não há maior dádiva que a dádiva da luz espiritual.

 

             Que eu jamais, por um momento, perca a fé nas palavras do guru. Que eu possa seguir suas instruções com toda sinceridade. Que possa servi-lo com amorosa devoção. Que possa sempre ser agradecido a ele. Que meu coração possa estar sempre pleno de reverência por ele!

             O guru firma nossos pés na senda da virtude e retira todos os obstáculos do caminho. Nos dá instrução e também forças para seguir a instrução. O pupilo tem apenas que continuar, a meta diante dele está. Tal como alguém que, tendo em mãos o início de uma comprida corrente pode, seguindo elo por elo, alcançar um tesouro que se acha preso à outra ponta, similarmente, o estudante prosseguindo passo a passo ao longo da Senda em que o guru firmou seus pés, alcançará a meta suprema.

             Pela graça do guru encontrei meu caminho e devo realizar meu ideal por meio de sua direção e proteção.

             Vamos meditar naquele Ser Supremo, como o oceano de Consciência auto-efulgente. Este é o oceano da Felicidade imorredoura, onde não há perigo de afogamento. Estar nEle imerso é possuir vida eterna.

             Do seio desta Infinita Consciência ergue-se uma silhueta, a forma do guru, personificação da Divina Pureza, do Divino Conhecimento, da Graça Divina e do Poder Divino.

             Medite nesta forma como sentada em um lótus de mil pétalas, que floresce no centro do seu coração. O guru assumiu condição humana para revelar-Se  a você, para abençoá-lo e conduzi-lo. Veja seu olhar compassivo, veja Sua luminosa presença, a mais pura entre os puros, toda clara irradiando paz, amor, conhecimento e graça. Esta forma se dissolve no oceano Infinito de perfeita felicidade, de onde surgiu o guru e para onde voltará.

 

                         “Eu  me prosterno diante do guru, o Supremo Brahman;

                         reverencio o guru como o Ser Supremo, testemunha de todos os eventos;

                         inclino-me para o guru na forma humana, personificação da compaixão,

                         meu guia, meu amigo e meu refúgio. “   (Visvasara Tantra) 

 

Om  Shanti  Shanti Shanti....

 

 

 

 

 


 

Meditações conduzidas – Swami Satprakashananda.

 

 

PERDENDO A SI MESMO, VOCÊ SE ENCONTRARÁ!

 

I

 

             A ignorância do homem a respeito de Deus é a causa única de sua escuridão; assim, o conhecimento de Deus, unicamente, o torna LIVRE. Sendo ignorante sobre Deus e a verdadeira natureza do Ser, ele se identifica com o corpo, com os sentidos, a mente e seus agregados. Ele faz uso dos termos “eu” e “meu” no que se refere a estes, e se afirma como indivíduo distinto.

             Esta egoidade o prende ao mundo através de aversão e apego. Impelido para “gosto e desgosto” ele efetua várias obras – boas e más; se confronta com diversas situações – dolorosas ou agradáveis; e abriga múltiplos pensamentos e sentimentos elevados ou inferiores. Tudo isto deixa em sua mente indeléveis impressões, que lá permanecem com forças latentes, amadurecendo no curso do tempo e criando novas condições de vida, aqui ou mais além.

             Como alguém semeia, assim colhe. Restrito pela lei do Karma, ele se move para cima e para baixo na existência fenomenal, de uma forma de vida para outra, repetidamente experimentando nascimento e morte, ascensão e queda, esperança e medo, prazer e dor. Não há liberação desta cadeia de dualidades enquanto ele tiver seu ego que o separa de Deus, seu mais íntimo e verdadeiro Ser. “Quando o ego morre, as dificuldades cessam”, costumava dizer Sri Ramakrishna. Porém, é bastante difícil desfazermo-nos deste ego. Ele possui muitas formas, umas grosseiras, outras sutis. Você pode subjulgá-lo de um modo, ele ainda surgirá em outro, talvez mais sutil que o anterior. A única maneira de eliminá-lo é rendê-lo inteiramente a Deus, que é o único Ser em todos os seres, o único Mestre do Universo, por cuja graça apenas se pode alcançar liberdade da ignorância escravizante, e cruzar o oceano da mortalidade.

             De modo a render-se a Deus, deve-se estar totalmente convencido da falsidade do ego humano, renunciar a todo apego dos sentidos criado por ele, e aceitar a Deus como a Suprema Meta. Alguém pode procurar Deus por motivos de lucro, ou mesmo “satisfações celestes”, mas isto não o conduzirá à liberdade. Um verdadeiro buscador da liberdade deverá conhecer Deus como a Alma de sua alma, o Todo-em-tudo da existência; quem, sendo alcançado, nada fica para ser alcançado; quem, sendo conhecido, nada permanece para se conhecer; quando o aspirante espiritual realiza a Deus como seu próprio Eu, só então ele se torna absolutamente livre!

 

 

 

II

 

Porém, a divina natureza do Ser não pode ser experimentada por meio de conhecimento livresco ou especulação intelectual. O buscador de Deus deve adorá-lO e nEle meditar como o Ideal de sua vida, com fé e devoção. Isto é o que distingue um aspirante espiritual de um pesquisador intelectual a respeito de Deus. Alguém pode buscar Deus, investigar a natureza do Ser Supremo, com sinceridade ou contínua tenacidade – por interesse pragmático e acadêmico, como um simples filósofo ou estudante de religião faria. Tal pessoa terá apenas um conhecimento indireto de Deus. Ele não pode realizar a Deus, todavia, porque não está pronto para abandonar seu ego e buscar a Deus como a própria meta da vida. Para esta pessoa a Auto-realização não é a meta suprema ou o mais elevado bem. Obscurecido, por pontos de vista e atitudes egoístas, sua mente não se torna clara e calma o suficiente, para a direta e desobstruída visão da verdade.

             Tão logo, o aspirante espiritual saiba que seu ego tem apenas existência aparente, que sua facticidade depende da Realidade Divina, e que, essencialmente, faz parte do Ser Supremo, prontamente entrega-se a Deus e O procura com toda a alma e coração, reverenciando-O com seu próprio EU. Todo seu ser se volta para Deus, e ele constantemente pensa n`Ele e n`Ele medita, intensamente. Sua mente se torna absorvida em Deus e recebendo a luz direta do Ser, que remove toda treva interior, clarificando a visão e revelando a ele a Verdade de que o Ser é Deus. Assim, por perder a si mesmo (seu ego) na Divindade, ele encontra a si mesmo (o Ser) como sendo Aquilo.  

“Busca e encontrarás!”, diz Jesus Cristo.

Assim também está dito nos Upanishads:

                         “Este Ser não pode ser alcançado pelo estudo dos Vedas,

                          nem pelo poder do intelecto, nem por estudo prolongado.

                          Aquele que busca o Ser o alcança por seu próprio

                          exemplo :

                          a ele, o Ser revela sua própria existência.”

 

Pense que Deus é a única Realidade, a substância única de todas as mutáveis formas, físicas ou psíquicas. É Seu poder que faz tudo parecer real. Sem Ele, tudo é sombrio e sem valor. Ele, apenas, é Auto-existente, Auto-desperto, imutável, eterno, absolutamente livre, puro, perfeito e venturoso. Por Sua realização se alcança completo entendimento.

 

“Aquele que conhece Brahman, verdadeiramente se torna Brahman”, também está dito nos Upanishads, pois Brahman é o próprio Ser. Pense que Ele reside glorioso nas profundezas de sua existência, como seu mais íntimo Eu. Você não O vê porque simplesmente não O procura. Iludido pela ignorância, você tomou o ego pelo Ser. No presente estágio de sua mente, você se sente, em realidade, uma entidade psicológica finita, sujeita a nascimento e morte, crescimento e decadência, fome e sede, calor e frio, prazer e dor, e assim por diante. Para todos os efeitos, você é limitado e separado de Deus. Porém, você deve ir além de onde se encontra. Ninguém, se não o Todo-livre, pode fazer livre os aprisionados. Assim você deve buscar a Ele, o Mestre Supremo, por liberação, e a Ele render-se, ou seja, seu ego, a causa de toda sua limitação e servidão. É assim que você pode obter Sua graça. Esta é a maneira pela qual o conhecimento do Ser Real despontará em você.

Imagine que a luz deste Ser está surgindo no horizonte de sua mente, removendo toda escuridão e toda ilusão, e transformando sua ego-consciência. Enquanto você visualiza aquela luz, pense que não é nem o corpo e nem a mente, mas seu conhecedor, o experimentador dos eventos físicos e mentais, um ser luminoso, centelha daquela luz. Medite, profundamente, na luz daquele Ser, procedente das profundezas de sua existência, e permeando toda sua mente – envolvendo seu ser finito e absorvendo-o, até que não exista mais nenhum intervalo entre o ser individual e o Ser total. Então, muito além do corpo, dos sentidos e da mente, você experimentará o único Ser, sem limite, livre, todo venturoso.

 

OM Shanti Shanti Shanti

 

 

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